POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO PARANÁ

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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O CRIME DAS IRMÁS PAPIN - por Mariana Anconi

Como no momento tenho lido muito a respeito do tema "Psicose" devido a elaboração da minha monografia, decidi compartilhar com vocês este caso estudado por Jacques Lacan na época em que fazia sua tese de doutorado.



As irmãs Papin e suas patroas


"Quinta-feira, 2 de fevereiro de 1933, na cidade de Le Mans, província de Sarthe. São cerca de vinte horas; a polícia municipal é chamada à residência de René Lancelin, que não havia conseguido entrar em sua casa, arromba a casa do antigo procurador e, no primeiro andar, encontra a Sra. Lancelin e sua filha assassinadas, com os corpos pavorosamente mutilados e os olhos arrancados das órbitas.
No segundo andar, refugiadas num canto da cama e agarradas uma à outra, as duas empregadas exemplares, Christine e Léa Papin, confessam sem dificuldade haver cometido o duplo assassinato de suas patroas - patroas irrepreensíveis, segundo suas palavras. Um simples incidente insignificante, a propósito um ferro de passar com defeito e de um fusível queimado, parecia haver desencadeado a carnificina sangrenta".
(Nasio - Os grandes casos da Psicose, 2001, p. 191)


Diante deste contexto, apresento-lhes um caso muito famoso e comentado na época, notícia na primeira página do jornal local La Sarthe.



Le Mans - France


As irmãs Papin eram as empregadas exemplares, que todo patrão gostaria de ter em sua residência. Dedicadas ao serviço, esforçadas ao máximo, para que não houvesse reclamação alguma das patroas. Raramente eram vistas na rua, não tinham amigos, namorado, ou mesmo vida social... "Que estranho!" - comentavam os cidadãos da cidade.
Christine e Léa não tinham mais contato com a mãe. Esta por sua vez, nunca desempenhou a função materna da maneira "adequada" com sua filhas (que eram três por sinal). Sempre as entregava a outras pessoas e quando quisesse as buscava novamente, exercendo um poder sobre elas, em outras palavras, fazendo-as de objeto. A filha mais velha (Emilia) abandonou a familia para dedicar-se a igreja, já as outras duas (Christine e Léa) foram abandonadas pela mãe e juntas conseguiram o emprego na casa dos Lancelin.
As duas irmãs, abandonadas pela mãe, desenvolveram uma relação simbiótica, ou seja, uma era o espelho da outra, uma completava a outra. No entanto, no decorrer dos estudos, percebe-se que Christine desenvolve uma estrutura psicótica, enquanto que Léa (a mais nova e "frágil") se deixa influenciar pelos delírios da irmã mais velha.
Nasio (psicanalista) comenta sobre este caso, que, como as duas irmãs sempre viveram juntas, compartilharam do mesmo pensamento, idéias e almejavam as mesmas coisas, isso foi possível para que o delírio de uma contagiasse a outra. Mas, em outros casos isso é muito raro acontecer, ou seja, uma pessoa "normal" (neurótico) se deixar levar pelos delírios de um psicótico.





Irmãs Papin


Bom, as irmãs tinham um forte sentimento de abandono e viram na Sra. Lancelin a figura materna que faltava em suas vidas, tendo até um momento que chegaram a chamá-la de mãe. Através desta transferência extremamente forte e positiva, as irmãs conseguiram desempenhar um papel aceitável na sociedade - até certo momento!
Eis que chegou o dia em que as estruturas psíquicas balançaram e, num momento súbito, aquela transferência positiva se transformara em negativa, devido a um olhar da patroa de reprovação e insulto direcionado às irmãs. Que péssimo para as patroas...Porque uma vez que o psicótico se sente ameaçado, ele faz de tudo para se proteger! De tudo mesmo, até arrancar os olhos do outro que lançou o "olhar invasivo", que foi o caso.



As duas vítimas


E no fim da história, as irmãs são presas, Christine de fato surta na prisão, apresentando ataques violentos contra os outros e a si mesma, morre por lá mesmo. Léa condenada a dez anos de trabalhos forçados, saiu da prisão por conduta exemplar, e voltou para junto da mãe Clémence, com quem viveu até o fim de seus dias. E como Nasio disse em seu texto: "Foi essa a história das irmãs Papin, filhas de Clémence: Emilia foi destinada a Deus, Christine à loucura e Léa à Clémence, sua mãe".


Gostaria de comentar muito mais a respeito, pois este é um caso rico em informações sobre esta estrutura psíquica, mas não quero me estender muito neste post!


Até a próxima ...




Mariana Anconi

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