POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO PARANÁ

POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO PARANÁ

sábado, 24 de novembro de 2018

O DESABAFO DE UM DELEGADO

CURITIBA, 24 DE NOVEMBRO DE 2018.




Nem sempre é fácil ir ao inferno e ter que retornar. Eu retornei. E isso aconteceu por duas vezes, e em cada uma delas sai fortalecido.
Quando entrei na polícia, exercendo a função de detetive, enfrentei vários desafios. Mas a impressão que tenho é que, até mesmo os criminosos não eram tão impiedosos naquela época. Ladrões, sequestradores e assassinos eram conhecidos pelos nomes, e todas as forças de Segurança Pública sabiam quem era o inimigo a ser derrotado.
Não foi fácil vencer os desafios da vida. Sempre tive que abrir mão de algumas coisas para conquistar outras. Durante um período, trabalhava durante o dia e estudava a noite e mal tinha tempo para a família. O meu objetivo era ser melhor, tanto quanto indivíduo, quanto profissional. E os esforços valeram a pena. 
Como delegado, assumi outras responsabilidades. Comandei grandes delegacias e sempre fui respeitado por onde passei. O respeito dos colegas e principalmente da sociedade foram conquistas importantes que me fizeram ir além.
Na Divisão de Homicídios e Proteção a Pessoa, deflagrei inúmeras operações que resultaram em casos solucionados, bandidos presos e famílias confortadas. A minha camisa sempre foi a da segurança da população.
Na Delegacia de Furtos e Roubos, não foi diferente. Resultados que, orgulhoso, levo para a vida.
Mas nem tudo são flores. No meio do caminho, um acidente de percurso, transformou a bonança e tranquilidade do dia-a-dia de trabalho em tormenta. 
A cidade de Rio Branco do Sul, na Grande Curitiba, foi o palco dessa tragédia que ganhou as páginas dos jornais. Os programas de TV, propagaram e esticaram ao máximo a notícia, transformando a informação em novela, aumentando a sua audiência a todo custo.
Sempre fui policial, e essa é a área que entendo muito bem. Mas a comunicação e seus melindres, conhecia de ouvir falar. No entanto, naquele momento, havia me tornado vítima, não só de uma armação para me incriminar, mas também dos julgamentos da população, que, baseada em informações desencontradas me julgavam antes mesmo do caso encerrado.
Sobrevivi. Voltei daquele inferno mais forte, e essa força mudou meu destino. Deixei as delegacias, a linha de frente contra a criminalidade, para trabalhar de forma diferente pelo mesmo assunto.
Fui eleito suplente de deputado Estadual com mais de 40 mil votos. Assumi uma cadeira na Assembleia Legislativa em 2017. Em um ano e meio, foram inúmeros projetos, a maioria voltados para a valorização das polícias Militar, Civil, guardas municipais e Conselhos de Segurança. 
Atendi a solicitação de diversas cidades do estado, encaminhando verbas, viaturas e outras iniciativas pensando no bem estar do cidadão.
A reeleição foi o resultado deste trabalho. Na última eleição conquistei mais de 35 mil votos. Gente que acredita no meu trabalho e me escolheu para continuar essa luta. Gente que fiz questão de visitar nos dias de campanha, e olha que não foram poucas visitas.
Tirei milhares de fotos, fiz uma infinidade de vídeos e por todos os cantos do estado deixei amigos espalhados.
Alguns dias depois da alegrai em ser reeleito, novamente fui colocado a prova.
Me jogaram novamente no inferno. 
Usaram fotos e vídeos e tudo o que conseguiram para tentar me relacionar com um homem envolvido em um crime bárbaro.
Impossível imaginar que aquele pai rapaz sorridente que me recebeu em sua casa seria capaz de algo tão terrível. Não posso compactuar com isso, muito menos ter minha dignidade, minha carreira, colocada em prova por conta de uma visita, durante o período eleitoral.
Desta vez, novamente fui parar no banco dos réus, não da Justiça Brasileira, mas da imprensa, que recebe os fatos, e além de noticiá-los, cria posições que podem matar. E foi quase isso que aconteceu.
Minha imagem, minha carreira, e todas as minhas conquistas colocadas em prova. A disputa inescrupulosa pela audiência, me colocaram nas capas dos jornais, nas manchetes dos programas de TV. 
Mas acredito em Deus, e mais uma vez ele me resgatou do inferno. Mais do que isso, sigo firme e mais forte do que nunca. Meus amigos do dia-a-dia, e principalmente aqueles que me seguem nas redes sociais mandaram milhares de manifestações de apoio. E isso foi fundamental para continuar e seguir adiante.
O próximo passo é buscar meus direitos. Buscar reparação para os danos provocados em minha imagem.
Confio na justiça, e espero que ela seja firme e forte para julgar tantos os envolvidos no crime, mas também contra aqueles que, de alguma forma, quiseram me envolver nessa tragédia.



POR RUBENS RECALCATTI